terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Contracultura Cristã - A Mensagem de Jesus

Realmente nenhuma outra expressão resume melhor a intenção de Jesus, ou indica mais claramente o seu desafio para o mundo moderno, do que a expressão “contracultura cristã”.

Faço questão de reproduzir as mesmas palavras da introdução do livro "A Mensagem do Sermão do Monte" de John Stott:

“Os anos que se seguiram ao fim da segunda guerra mundial, em 1945, foram marcados por um idealismo inocente. O horrível pesadelo terminara. “Reconstrução era o alvo universal. Seis anos de destruição e devastação eram coisas do passado; a tarefa agora era construir um novo mundo de cooperação e paz. Mas a irmã gêmea do idealismo é a desilusão, desilusão com aqueles que não participam do ideal, ou (pior) com os que se lhe opõem, ou (pior ainda) com os que o traem. E a desilusão com o que é continua alimentando o idealismo do que poderia ser.

Parece que alimentamos décadas de desilusão. Cada geração que se levanta odeia o mundo que herdou. Às vezes, a reação tem sido ingênua, embora não possamos dizer que tenha sido hipócrita. Os horrores do Vietnã não terminaram com aqueles que distribuíam flores e rabiscavam o seu lema ‘Faça amor, não faça guerra’, embora o seu protesto não tenha passado despercebido. Hoje em dia, há pessoas que repudiam a opulência ávida do ocidente, que parece ficar cada vez mais gordo, através do esbulho do meio-ambiente natural, ou através da exploração de nações em desenvolvimento, ou através de ambas as coisas ao mesmo tempo; essas pessoas exprimem a totalidade da sua rejeição, vivendo com simplicidade, vestindo-se negligentemente, andando descalças e evitando o desperdício. Em lugar do simulacro da socialização burguesa, estão famintas de relacionamentos de amor autênticos. Desprezam a superficialidade, tanto do materialismo descrente como do conformismo religioso, pois sentem que há uma “realidade” impressionante muito maior do que essas trivialidades e buscam essa dimensão “transcendental” ilusória através da meditação, de drogas ou do sexo. Abominam até o próprio conceito do corre-corre da sociedade de consumo e acham que é mais honesto “cair fora” do que participar, Tudo isso é sintoma da incapacidade da geração mais jovem de adaptar-se ao status quo ou de aclimatar-se à cultura mais prevalecente. Não se sentem à vontade. Estão alienados.

E em sua busca de uma alternativa, “contracultura” é a palavra que usam. Ela expressa um amplo raio de ação de idéias ou ideais, experiências e alvos. (...)

De um certo modo, os cristãos consideram essa busca de uma cultura alternativa um dos mais promissores, e até mesmo excitantes, sinais dos tempos. Pois reconhecemos nisso a atividade do Espírito, o qual, antes de confortar, perturba; e sabemos a quem a busca deles conduzirá, se quiserem encontrar a resposta. Na verdade, é significativo que Theodore Roszak (A Criação de uma Contracultura, 1969), encontrando dificuldade para expressar a realidade que a juventude contemporânea procura, alienada como está pela insistência dos cientistas quanto à “objetividade”, sente-se obrigado a recorrer às palavras de Jesus: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”

Mas, ao lado da esperança que esta disposição de protesto e busca inspira aos cristãos, há também (ou deveria haver) um sentimento de vergonha. Pois se a juventude de hoje está à procura das coisas certas (significado, paz, amor, realidade), ela as tem procurado nos lugares errados. O primeiro lugar onde deveriam procurar é um lugar que normalmente ignoram, isto é, a igreja. Pois, com demasiada freqüência, o que vêem nas igrejas não é a contracultura, mas o conformismo; não uma nova sociedade que concretiza seus ideais, mas uma versão da velha sociedade a que renunciaram; não a vida, mas a morte. Prontamente endossariam o que Jesus disse de uma igreja do primeiro século: ‘Tens nome de que vives, e estás morto’.

Urge que não somente vejamos, mas também sintamos, a grandeza dessa tragédia, pois, na medida em que uma igreja se conforme com o mundo, e as duas comunidades pareçam ser meramente duas versões da mesma coisa, essa igreja está contradizendo a sua verdadeira identidade. Nenhum comentário poderia ser mais prejudicial para o cristão do que as palavras: ‘Mas você não é diferente das outras pessoas!”

O tema essencial de toda a Bíblia, desde o começo até o fim, é que o propósito histórico de Deus é chamar um povo para si mesmo; que este povo é um povo ‘santo’, separado do mundo para lhe pertencer e obedecer; e que a sua vocação é permanecer fiel à sua identidade, isto é, ser ‘santo’ ou ‘diferente’ em todo o seu pensamento e em todo o seu comportamento.

Foi assim que Deus falou ao povo de Israel logo depois que o tirou da escravidão egípcia e fez dele o seu povo especial através da aliança: ‘Eu sou o Senhor vosso Deus. Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus estatutos. Fareis segundo os meus juízos, e os meus estatutos guardareis, para andardes neles: Eu sou o Senhor vosso Deus.’ Este apelo que Deus fez a seu povo, é preciso notar, tanto começou como terminou com a declaração de que Ele era o Senhor seu Deus. Pelo fato de ser o seu Deus, com quem eles firmaram um pacto, e porque eles constituíam o seu povo especial, tinham de ser diferentes de quaisquer outras pessoas. Tinham de seguir os mandamentos de Deus e não os padrões daqueles que os cercavam.”

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