sexta-feira, 30 de julho de 2010

Saudades de Pindobas

Eu era feliz e não sabia. Morava num paraíso. Pindobas. Conhece? Não só Pindobas, mas toda Maricá era um lugar maravilhoso há apenas 20 ou 30 anos. Podíamos deixar nossas bicicletas na calçada da praça e voltar no dia seguinte que estaria no mesmo lugar. Todos se conheciam. Todos sabiam de quem éramos filhos, só não sei se isso é bom (rs). Meus pais e irmãos sabiam tudo que eu fazia na rua (rs). Alguns amigos iam à minha casa assistir Os Trapalhões, aos domingos, às 19h. As pessoas se respeitavam mais e eram mais educadas. Idosos e mulheres não ficavam em pé nos ônibus. Talvez seja também porque, naquela época, as novelas não ficavam repetitivas nos medíocres maniqueísmos de suas personagens e nem invertiam tanto os nossos valores. As novelas puxavam para o humor e não mostravam tanta maldade, prostitutas bem sucedidas e casamentos cheios de traições. Crianças dormiam cedo e não participavam de conversas de adultos. As comidas eram mais gostosas, naturais e os supermecados Capri não usavam sacolas plásticas. Quando alguém era morto, era assunto para 3 meses! (rs). Hoje, as pessoas que ainda restam em Pindobas, pessoas humildes, amigas de verdade, que tiravam o chapéu para comprimentar os outros, estão morrendo. Morrendo vítimas da ociosidade do desemprego, da "cachaça desgraça que os fazem engolir", pior, vítimas do uso de drogas, coisa que nunca imaginei que fosse acontecer por aquelas bandas. Até desmanche de carro ouvi dizer que tem perto da antiga cachoeira que, pasmem, eu e meus irmãos conseguíamos pegar pitús e lagostinhas em meio aos mussuns, peixinhos e a mata que ainda não era devastada. Hoje o rio está morto. E nós quase mortos em nossa lembrança. Saudades do Seu Heitor, Seu Joãozinho, Zé Santana, Davi Braga, Seu Valter, Nadinho, Cavaquinho, Jorge Rebeca, Lauro, os filhos de Cyro, os filhos de Tiófo (Burroso morreu), saudades do Marcelinho (hoje Pastor, graças a Deus), do Seu Benzinho e do angú da Dona Valdina, do Ney, do Miro, Dite, Minga, Carmita, Nezio, Ginho, saudades do Rancho Apache (onde tomei banho de piscina pela primeira vez na minha vida) e Seu Antônio, Dona Marlene e Júnior, do Seu João Paulo, da Escola de Pindobas, dos campos de futebol (Serra Dourada e Beira Rio), do time do Sonrisal, do Dalmo (no táxi hoje e também evangélico), da inteligência do Seu Antônio Azeredo, da máquina passando na estrada e sempre chovendo depois, do Rafael (filho do Durval), do Vitinho e da Diva, do Jomar, dona Clélia e suas filhas, das laranjas nas chácaras (principalmente do outro lado do morro), do Jequitibá da Dona Regina e do Dr. Orlando, saudades do Dr. Oswaldo, do Tonho, do Caneco, Jorginho Carvoeiro, do Onésio, Ocrídio (deve ser Euclides! rs), do time do Tuninho (no campo do Figueirense), saudades do Quebra-Santo, do Condinho, do Seu Dedé e seus filhos, do Clarindo, do Herminho (deve ser Hermínio. rs.), do Seu João de Amor, do Zé Coruja, Louro, Chico de Oripe (ou Euripe. rs), Jorge Peixeiro, Sabino, Seu Nenê e Dona Lizinha, do Tuca com sua bola, do Taíde, Porfírio, Chico do Ovo, Lênio (pai do Lauro), Cinho (irmão falecido do Lauro) Pituta, do Alfredo (casado com a Neuza) cunhado do Jardel, Herivelto, Rogério, Anselmo, Zuleika, Beatriz, filhos da Dona Aidê. Saudades do time do Ubatiba quando ia jogar lá, com Ledo, Caretinha, Cézar, Ostinha etc. Que saudades do Seu João do Balão passeando de mãos dadas com sua esposa, saudades do Paulinho, do Ricardo, do Edézio, saudades da leitoa que a Dona Aliete preparava, saudades do Jorjão, do Mí, do Paulinho, Carlinhos, Vado, Jocinete, Amparo, Andréa, Angélica (filha do Alfredo), Maria de Baltazar, do Seu João Velhinho, Seu Totonho, do Adil, Denil, Baiano, das pessoas debulhando guando na minha casa, do pé de cana e do poço lá de casa, das pipas feitas do papel que embrulhava o papel higiênico, dos diversos papéis de pão que eu e meus irmãos desenhávamos no balcão do armazem, da pedra que joguei para cima e caiu na minha cabeça, do maravilhoso Buja, do Carlos José, do Cosme, do Leco e Jorge, de Carmelina, da Maria (esposa do Seu Valter), do Valdelino e seu irmão Dino (infelizmente também falecido), do educado Rute (de Rutinaldo. rs.), dos meus primos de São João de Meriti que viam com meu tio Emílio numa Rural, Neno, Neném, Daniel, Nandinho, Luluca, Bebete e Valdir, do meu avô Luiz (quando ia por lá) dos meus irmãos Haroldo, Neide, Leila, Margareth, Oduvaldo e minha mãe Juracy (quando todos estavam mais em casa) -- ainda continuarei esta lista de saudades, completar não dá. ...Saudades do Seu Moysés (ou seria Meu Moysés). Meu pai. Que Deus abençoe a todos!!!!

NULIDADES

"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
...a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto."

Rui Barbosa (1914)

É impressionante como alguns textos são sempre atuais. Este texto de Rui Barbosa é um grande exemplo. Ele foi utilizado no primeiro jornal "Outras Palavras" que saiu no dia 1ª de abril de 1994. Éramos eu (estou aqui, evangélico), Quaquá (hoje prefeito), Gilson (hoje Pastor), Sandro Ronquetti (Foi Secretário de Saúde do governo Ricardo Queiroz e trabalha na Secretaria de Saúde da Prefeitura de Tanguá), Serginho Mesquita (ainda na TV Brasil) e Rogério Bigio (em Brasília, numa vida totalmente diferente). Não lembro se o Júnior (Enoque) já estava conosco (hoje, infelizmente, falecido).
O ano de 1994 foi um ano marcante. Neste mesmo ano, perdi o meu amigo Rafael num acidente de moto. Depois disso, perdi vários amigos e conhecidos em acidentes de moto e carro. A vida é assim. Muitas coisas mudam (as que não dependem de nós) e outras coisas não mudam nunca (geralmente as que dependem exclusivamente de nós).

O Analfabeto Político

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais."

Bertolt Brecht