terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Por trás das mudanças


Hoje visitei uma casa para captá-la (ou opcioná-la), pois também sou corretor de imóveis. Faço essa parte do trabalho de uma forma mais cuidadosa, pois notei que muitas vezes há motivos muito sérios e delicados para alguém estar vendendo aquilo que já foi a realização de um sonho.

A causa mais frequente é a separação de casais. Pessoas que um dia sonharam em ter seu canto, seu refúgio, e que, por razões várias, não conseguiram manter seus casamentos, não conseguiram ser felizes para sempre. Não conseguiram cumprir os votos, não conseguiram se amar continuamente ou não conseguiram se respeitar, ou não aguentaram a tristeza ou a pobreza ou a doença. Não aguentaram chegar até que a morte os separasse. Não entro no mérito do "porquê", o que importa é que separação sempre é um triste acontecimento. Separação sempre vai doer.

Mas a pior separação é a que eu presenciei hoje, vendo a casa praticamente abandonada: quando a morte vem e separa definitivamente as pessoas. Pior ainda, separa cedo demais. Mas dessa vez não falo de casamento, mas da separação inesperada que um pai é obrigado a encarar quando seu filho perde a vida. Não é a primeira vez que testemunho isso. Já vi pais perderem totalmente sua alegria após a morte de seus filhos. Suas vidas passam a não ter mais sentido quando acontece aquilo que entendemos ser fora da ordem natural das coisas: pais enterrando filhos.

Entro na casa e me deparo com garrafas de cervejas que nos transportam às várias festas comemoradas naquele lugar; vejo churrasqueira e piscina que perderam totalmente o sentido, assim como quartos abandonados, com móveis velhos em meio a paredes descascando combinando com um cheiro forte de mofo. Foi um último carnaval aquele, no qual um jovem partiu tão cedo e mudou tão radicalmente a vida de toda a sua família.

Quem não passou por isso, não tem como imaginar. Mas é impossível para nós, pais, que trabalhamos nessa profissão que não escolhe as histórias que vamos encontrar, não nos colocarmos no lugar dessas pessoas. Dói na gente também. Nossos olhos enchem-se de lágrimas.

Só me resta orar a Deus e pedir misericórdia para essas famílias e para nós, para que Ele nos livre desse mesmo mal e que nos fortaleça para sabermos lidar com essas dores e termos sempre alguma palavra de esperança para compartilhar ou que até mesmo saibamos nos calar nos momentos certos, nos alegrando com quem se alegra e chorando com os que choram.

Por trás das mudanças, têm muitas histórias. Se eu pudesse fazer algo para devolver os casamentos felizes, os filhos e outros parentes que partiram, eu preferiria não vender casa alguma.

Nele,
que nunca me deixará.

Moisés
10/12/2014
Maricá-RJ

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